27 September, 2008

O bom filho à casa torna.


Sempre pensei que fosse bom ficar um tempo ausente, assim, pra repensar sobre alguns aspectos em relação a algo que nem eu sei. Todo mundo fala "em relação à vida", mas acho que essa palavra não vem ao caso. Não no sentido em que eu quero dizer - ops, escrever. O fato é que minhas quimeras sempre foram mais introspectivas e tal. Andei fuçando lá e cá, em relação aos posts passados. E é verdade que um blog pode te mostrar coisas bem reveladoras, assim como um álbum velho de fotografias: olhamos, olhamos... e rimos de nós mesmos, ao perceber o quanto mudamos, amadurecemos, e no que nos tornamos, o que viemos a ser, o que de novo aconteceu e o que de velho permaneceu - essas frases em primeira pessoa do plural sempre funcionam de forma interlocutória quando o assunto em pauta são as auto-reflexões; meio paradoxal, eu sei, mas é só pra não fugir à regra.

Já passei por muita coisa nesse meio tempo e aprendi bastante, como já era de se esperar. Também já tive vontade de voltar aqui e relatar alguns dos ocorridos, mas a preguiça me venceu pela trilhonésima milésima vez - sim, chega a ser irritante, e a hipérbole reforça bem. Acabava postando mais coisas dos outros que minhas, propriamente. Crônicas, textos, algo que me chamasse atenção em coisas alheias; e esquecia de mim mesma. Resolvi, de agora em diante, escrever sobre a minha pessoa ou acontecimentos que presenciei. Soa egoísta, mas blog é pra isso mesmo!

Vejamos... Mês passado, numa aula de Teorias do Estado, meu professor falava sobre o surgimento do liberalismo e as decorrentes modificações a que este fora forçado a se submeter. Uma menina na classe até questionou se existe isso mesmo, de um liberalismo conservador - a priori - mudar tanto a ponto de não mais poder ser identificado. Confesso que tive a mesma dúvida. Entretanto, o professor foi categórico. Permitam-me colocar parte do diálogo no post:

"- Qual o seu nome mesmo, mocinha?
- Rute.
- Então, Rute... Com quantos centímetros você nasceu?
- Err... cinqüenta ou cinqüenta e um, não lembro - respondeu ela, meio que se perguntando o que teria isso a ver.
- E você tinha muito cabelo? - continuou o professor
- Um pouco... - respondeu a moça num estado entre risonha e envergonhada.
- Quantos anos você tem mesmo?
- Dezenove.
- Hum... Então, Rute. E hoje? Creio que você esteja bem diferente do que era com meses de vida, certo?
- É...
- Pois bem, não é porque você muda que você deixa de ser quem era há dezenove anos atrás, ou passa a assumir outra identidade. Mudanças sempre aconteceram e acontecerão. E isso serve pra você, pro liberalismo, pra república, pra monarquia...”

Sem mais delongas (porque o discurso foi grande, a fim de que a argumentação não tivesse mais questionamentos; professores sabem ser persuasivos, e isso às vezes assusta). Tive que concordar com meu querido mestre. E, enfim, lembrei da cena ao tentar escolher um tema pra esse post regresso.

Já fui loira, morena e até ruiva. Já tive cabelo chanel e pela cintura. Hoje penso coisas que há um ano atrás nunca ousaria indagar. Escuto bandas que antes nem agüentava ouvir, leio autores que já considerei chatos e cansativos... Tudo isso pra concluir que esse papo de monotonia é sempre a curto prazo, parando pra pensar. Nada permanece sempre do mesmo jeito, sejam essas transformações em grandes ou pequenas proporções. Esse “status mutantis” (eu adoro neologismos latinos) é e sempre foi intrínseco ao ser humano, tanto no campo físico e até mesmo de maneira subjetiva – e dessa me encarrego de, aqui, palpitar.

Metaforizando um bocado, a vida cotidiana não passa de um grande armário, cheio de perdas e aquisições. Cabe a nós salvar algumas peças, empacotar algumas relíquias e, de vez em quando, pegá-las lá naquele cantinho, empoeiradas e escondidas, a fim de recordarmos o quanto foram necessárias pra nos mostrar, hoje, o que ou quem viemos a ser. Gargalhar daquele deslize, chorar aquela decepção, desejar novamente aquele show ou viagem... Afinal, o passado é logo ali – olha a interlocução auto-reflexiva aí de novo. No fim das contas é assim que me sinto ao escrever novamente aqui. Ah, só um “obs.” que eu fiquei sabendo e achei muito interessante: sempre, em uma linha do tempo, nos referimos ao presente do lado direito/frente e ao passado do lado esquerdo/costas. Os índios têm uma visão contrária a esse ponto de vista. Para eles o passado é o que temos de referência, o que é ocorrido, e deve ficar ao alcance de nossa visão. O futuro, por ser algo oculto e vindouro, fica do lado de trás, já que não o enxergamos. Por isso, em rituais, quando fazem preces jogando algo para trás, rogam pelo que há de vir. Hostilidades à parte, é um ponto de vista – literalmente, ou não – curioso. Fecha o “obs.”

Pois bem, meus caros. O bom filho à casa torna. Retornemos ao blog – tô falando de mim, vocês é só pra comentar mesmo. Saudações de regresso!

2 comments:

Anonymous said...

realmente as experiências mudam o nosso jeito de encarar o mundo. mas será que conseguem alterar também o nosso modus operandis?
bom regresso!

Unknown said...

eu acho boa, a idéia de transitar na coisa toda... passado, presente, futuro, que seja. tudo se repete com pessoas diferentes e em lugares e tempos diferentes, mas a essência é sempre a mesma. é quando entra alguém BEM ESPERTO no meio dessa teoria toda e diz 'vivendo e aprendendo', uma das frases mais clichês de todos os tempos ao lado de 'mãe, terminei'. o que esse alguém BEM ESPERTO desconsidera, porém, é o fato de que, apesar de a frase ser um chavão, a maneira com que cada um de nós aprende e apreende as coisas é sempre a mais original o quanto pode. o que nos leva às gargalhadas, reflexões etc. sobre o que já foi e as possíveis previsões sobre o que pode ser. e só um 'obs': se eu utilizasse a palavra 'TRANSCENDENTAL' no comentário, não seria eu, seria o Caetano Veloso, tamanho é o teor literário-viajante do escrito.

bom regresso! [2]