10 March, 2012

Obliterações (Carta pra ti)


"Guardei pra mim esta carta pra ti. De intensas intenções, sôfregas, porém ternas e resignadas. Guardei as manifestações ousadas, por entre palavras mudas, que muito a mim dizem – não a ti. Elocução sem elo, verdade. Nisto sei que devo desculpas.

Guardei os momentos de euforia, surgidos de tua nula reação, por mim fantasiada, e, num doce contentamento, recepcionada – sorriso acanhado, olhar oblíquo, disfarçado, alma serena. Guardei sentimentos e sensações intranscritos, nada obstante guarnecidos num singular azedume. Sobrepujados pelo nada. Nada existir.

Guardei revelações de meu âmago, há muito olvidadas. Estímulos sensoriais, de espírito, carne, pele e osso. Num corpo só, germinados pelo que há de mais belo em ti – tua essência. Inebriante. Guardei canções piegas, rascunhos mentais compostos no calor de teu afago – cantadas por minh'alma.

Guardei vicissitudes não reveladas, choros em desalinho, explosões reprimidas de felicidade. Caos na vontade e no querer. Guardei minha ida do céu ao inferno, pelo que há de mais profano. Guardei todas as possibilidades de fazer com que recebas – e percebas – o que não posso enviar.

Guardei pra mim esta carta pra ti – missiva sem remetente."

2 comments:

Dani. said...

arrepiei.
de verdade.

danikool said...

quanta palavra linda! <3