Quimeras Habituais
23 December, 2014
Soneto a ti - em segunda do (singular)
31 March, 2014
Do outro lado.
21 January, 2014
Ich liebe dich
Havia o medo iminente de acontecer exatamente o que está acontecendo agora. Aquela agonia lancinante no peito aliada a uma grande sensação de impotência. Também nunca pedi que me entendesse, nem os meus devaneios e minhas loucuras. E, pra minha sorte, você entendeu perfeitamente esse recado, e apenas me sentiu - e me fez sentir.
Te peço desculpas por não ser a pessoa mais adequada, aquela coisa previsível que todos amam e eu odeio ser. Deixo aqui os pedidos de perdão por não oferecer a segurança que você precisa, eu nunca curti mergulhos rasos dentro do oceano dos sentimentos - tampouco sou pires. Eu quis isso pra mim, e pra nós. Agradeço por me aceitar assim. Assumo agora o caos, abraço os riscos, e guardo tudo isso aqui calado em meu peito.
Dizem que a vida é um dom... Pedem para fazer direito, mas eu sou meio esquerdo. E vai ver é isso mesmo. Quantas vezes já quis te dizer "larga tudo e vem comigo, vamos fugir e sermos felizes". Eu, que sempre controlei as circunstâncias. Eu, que sempre fiz questão de manter meus pés no chão, pela primeira vez na minha vida quis voar despreocupadamente. Assim, tão genuíno como foi e naturalmente seria. Não guardo essa culpa sozinha.
Pois o mais lindo foi ver você pegar na minha mão e fingir que tudo isso foi verdade ao menos por alguns pares de dias. E o mais triste foi já saber do fim que se aproximava e agora veio. Mas não tive medo. Tive resignação. Resignação de amar.
Porque não, definitivamente eu não pedi que você me amasse... Mas ainda bem que você me amou.
13 December, 2013
Replay
(para ler ouvindo)
28 November, 2013
Daquelas coisas...
Eu sinto falta daquele arrepio na pele depois da passada do dedo. Do CD do Smiths que esqueci não sei onde. De brincar de Barbie e acordar ao meio dia. Sinto dos anos de colegial. De matar aula me sentindo uma meliante em fuga. Do vento gelado de Cabo Frio e dos cabelos me atrapalhando a vista pro mar. De brincar de casamento, e de casar 50 vezes no ano. De criar os filhos que ainda não tive. De dar banho no cachorro. Sinto falta de fazer bolo de lama. E disso ser uma delícia. De tomar banho de chuva. Do clube aos domingos. Dos choros compulsivos assistindo comédias românticas. De me sentir Bridget Jones sempre que bate uma bad. Sinto os dias que não disse eu te amo para vovô. Os sonhos loucos antes de dormir. E depois também. As madrugadas a fio jogando war com meus primos. Até mesmo o joelho ralado do pique-esconde. Sinto falta de chorar de rir. Das cócegas de mamãe. De passar no vestibular. De cantar na frente do ventilador. E gritar histericamente com a cabeça para fora do carro nos dias quentes de verão. Sinto falta do vinho barato ao som de Pearl Jam. Da minha primeira vez. E das outras também. Sinto falta de dançar valsa pela casa na hora da faxina. De plantar flores no quintal. De fazer palavras cruzadas. Do suco de acerola da tia Ciça. Da euforia quando ia pegar as fotos na revelação, e de querer entender como isso funciona. De roubar fruta na casa do vizinho. De virar estrelinha e plantar bananeira. Dos meus 18 anos. Sinto falta de andar por Ipanema e sentir a brisa quente me invadir. De fechar os olhos e acompanhar os segundos. De procurar desenhos em nuvens deitada na grama. De morrer de medo com filmes de terror hollywoodianos. De despertar com cheiro no cangote. De sexo matinal. Sinto falta de brincar de massinha com minha irmã. De dançar É O Tchan. Do harumaki do Guenzai aos sábados. De Toddynho. E de brigadeiro de panela... São tantas as coisas que eu sinto falta. Que até daria um livro, ou mais. Mas veja que curioso. Um momento como esse, tão saudoso, me fazer sentir falta... logo de você.
05 June, 2013
Água e sal
Apenas água e sal como uma gota no oceano do caos.
29 July, 2012
Eurídice
17 June, 2012
Sazonal
30 May, 2012
Valsinha
10 March, 2012
Obliterações (Carta pra ti)

10 February, 2010
No fim das contas...

Parei no elevador. Qual é mesmo o andar? Ah, dezesseis! Apertei a campainha. Uma. Duas. Três vezes. Lembrei, nesse meio tempo, do que tanto me afligia, a ponto de implorar que alguém abrisse a porta...
Vida social é bastante complicada, ainda mais quando você é completamente antisocial. Ou por mais que você tente ser o contrário (por vontade alheia), permanecer insociável.
Resolvi fazer terapia, pra ver se adiantava alguma coisa. Saber da minha infância, ao que parece, é algo crucial. Tão crucial, ainda, é o mesmo papo altruísta de sair, "nem que seja para ficar à toa", visitar amigos, tentar "se inserir". Falar também parece tão fácil, pra alguém que não tem (ou nunca se preocupou em ter) amigos. Mas como eu já disse, e se no caso quem optou por isso foi eu mesma? E se fui eu que cansei da hipocrisia alheia e resolvi adotar minha cadelinha como minha leal e melhor amiga? Não tenho esse direito? O que há de mau nisso?
O mau que há é justamente porque esse dilema é tão chato e desgastante que acaba te afetando de alguma forma. Socialização é quase que condição sine qua non à nossa existência. Uma pena.
Resolvi tentar. Comecei por uma caminhada na orla da praia. Três da tarde. Sábado... Muita informação. Melhor pegar leve no começo.
Ok, almoçar fora. Esqueci de novo. Sábado. Companhia para isso só com os colegas de trabalho - o que implica ser no meio da semana. Er... E o salão de beleza? Fofoca demais. Biblioteca municipal? Conversa de menos. Acho então que vou visitar alguém; mas quem? Quem disposto a encarar alguém em quadro "depressivo" sem questionar o motivo da visita? Quem sem companhia ou planos em pleno sábado à tarde? Claro! Como ainda ouso duvidar?! Parti, já quase correndo, da orla calorenta...
Parei no elevador. Qual é mesmo o andar? Ah, dezesseis! Apertei a campainha. Uma. Duas. Três vezes. Lembrei, nesse meio tempo, do que tanto me afligia, a ponto de implorar que alguém abrisse a porta. Ninguém atendeu.
Vasculhei, então, a bolsa por um bom tempo até achar lá no fundo o que precisava, diante daquela frustração.
Passei a chave na fechadura. Logo ao abrir a maçaneta, Meg veio me receber. Essa, sim, é pra todas as horas.
22 October, 2008
Às 17h, no Café & Cia...

- Boa tarde - disse o garçom, entregando o cardápio.
- Obrigado - ele não quis fazer o pedido ainda.
- Desculpe lhe interromper, mas o senhor aguarda por uma moça chamada Marcelle?
- Errr... sim - ele respondeu, um pouco pasmado.
- Ah, é que ela me pediu para que lhe entregasse isto - e passou-lhe um envelope em branco.
"Você deve estar se perguntando agora que diabos eu estou a fazer te escrevendo depois de tanto tempo. Já eu, poderia te responder um milhão de coisas, inventar uma infinidade de desculpas, só pra procrastinar. Eu sei que sempre fui assim, mas é que dessa vez eu simplesmente não consigo agir como agi não só com você, há três anos atrás, como com todos os caras que vieram a se aproximar de mim. No fundo acho que tenho medo, sei lá.
Na verdade, só queria me desculpar por ontem, quando nos encontramos depois de tanto tempo e acabei te tratando como um mero desconhecido no bar. Acho que estava bêbada além da conta e acabei ficando sem reação, talvez porque eu jamais esperaria te encontrar justo ali. Também queria te pedir desculpas por ter levado a dose de caipirinha pra mim, na mesa, num ato de bondade, cavalheirismo, como quiser; e eu ter pego o drink e saído sem ao menos dizer "obrigada". É que é bem complicado quando a gente tenta fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo. Ainda por cima agir, pensar e falar. E pra te ser sincera, eu ainda não tinha processado metade dos pensamentos que estavam dentro de mim, o que me fez parecer uma verdadeira idiota na sua frente. Mas juro que não era minha intenção te fazer de idiota também, naquele momento. Pena que eu só concluí isso agora, te escrevendo essa carta.
Não sei o motivo d'eu ter fugido, há três anos, quando as coisas entre nós foram começando a ficar ruins, mas você me conhece melhor que ninguém pra saber da minha antiga mania de nunca encarar nada de frente, de sempre arranjar uma desculpa e sair pela tangente, evitando me afetar demais. É... deve ser por isso. No fundo acho que tenho medo, mesmo, sei lá.
Mas quer saber? Apesar de tudo, e principalmente do meu jeito, eu ainda gosto de você. Vejo isso pela maneira que me importei com o que aconteceu ontem, a ponto de estar aqui te escrevendo - e isso é raríssimo acontecer. Passei todo esse tempo tentando me livrar do que ainda restava de você em mim, mas você - tendo ou não esse direito - desmoronou todo o templo dos meus planos ontem, e eu realmente andei inquieta hoje até terminar essa maldita carta. Logo eu, que sempre achei que pudesse controlar as circunstâncias, ou caso não as controlasse, arrumava um jeito de evitá-las... fugia.
Talvez agora eu não consiga mais - vou me esforçar pra fazer com que isto seja verdade. O fato é que quando te liguei, hoje de manhã, te chamando pra tomar um capuccino comigo no Café & Cia da esquina do seu prédio, às 5h, nem eu mesma sabia se ia conseguir cumprir a minha parte do convite - acho que pelo meu velho problema. Foi aí que resolvi te escrever essa carta. Porque se você a estiver lendo, é que eu sucumbi aos meus fracassos e não consegui me arriscar - espero que te sirva como justificativa ou consolo. Caso contrário, meu desejo por capuccino deve estar realmente aflorado hoje, rs. É só isso.
Afetuosamente,
Marcelle M."
Ele terminou de ler a carta. Olhou ao seu redor; logo após, as horas. Eram 17:15h. Depois deu uma risadinha sarcástica, como alguém que acabara de se conformar.
- Garçom! - chamou o homem.
- Pois não, senhor.
- Dois capuccinos, por favor!
Depois de ter bebido o seu, olhando para o outro, intacto, ele se levantou. Pôs a carta no bolso do sobretudo e saiu do Café, em meio ao frio e à chuva. Ele, mais do que ninguém, sabia que romances nem sempre são tão convencionais.
17 October, 2008
Meia palavra basta [?]

Ela parou no meio daquele quarto e observou as coisas alí como como se tivesse uma remota impressão de que seria a última vez. Afinal, aquela ligação no dia anterior às onze e meia da noite fora algo totalmente inesperado, e acabou se tornando pertubador. Acordou de sua lembrança, e então se viu novamente naquele quarto, em meio ao silêncio e ao turbilhão de perguntas e dúvidas que pareciam pulsar por entre os móveis e as paredes... Ela passou delicadamente os dedos sobre a cômoda no canto esquerdo, como se fosse esperar levar um choque, e depois, como acabou concluindo consigo mesma, acalmou-se e preferiu pensar que todo aquele estado de apreensão era coisa de mulher, que ela era suficientemente racional para lidar com qualquer tipo de situação. Então sentou-se na cama e pôs-se a aguardar.
Menos de um minuto depois a porta se abriu e ele entrou com um copo d'água na mão para oferecer a ela. Ela aceitou, atônita. Depois ele se sentou na cadeira da escrivaninha, com os cotovelos encostados em ambos os joelhos. Então fitou-a com os olhos longe, bem longe...
– Então... – ela quebrou o silêncio, um pouco eufórica.
– Oi, desculpe – ele respondeu, acordando de seu devaneio – É que eu tô exausto, acabei de chegar do banco. Bem, não sei ainda como que eu vou te explicar tudo...
– Tenta começar pelo começo, creio que seja uma boa idéia.
– Pode ser.
Ela esperou, com um rosto intrigado e ao mesmo tempo impaciente.
– Queria que você fosse a primeira a saber, afinal, o assunto vai afetar completamente os planos pro nosso casamento.
– Hum...
– Não sei se você percebeu, mas eu andei um pouco estranho desde semana passada.
– Percebi. Eu prefiro não acreditar, mas acho que tô começando a entender sobre o quê você tá falando.
– É? Que bom! – ele disse com uma feição aliviada e satisfeita – Mas é verdade, mesmo, Mariana. Só queria que você entendesse que eu achei melhor ir embora. Pra ajeitar as coisas, sabe, esperar tudo voltar ao normal.
– E você acha que isso vai resolver? Tem certeza que é isso mesmo que você quer?
– Nesse caso é preciso, Mariana.
– Renato, você que sabe. Só não vai pensando que eu vou ficar bem depois disso ou feliz com sua decisão.
– É por isso que eu estava com medo. De qual seria a sua reação depois da notícia, a reação da minha família... Também não é fácil pra mim, até porque não queria que isso vazasse pra mais ninguém. Se alguém mais souber do que aconteceu eu tô perdido! Odeio os outros comentando sobre mim. Por isso achei melhor dar um tempo.
– Em pensar que daqui a uma semana a gente começaria com os preparativos pro nosso casamento...
– Eu sei, mas não posso depois disso tudo que aconteceu. Minha vida também tá de cabeça-pra-baixo, acho que ainda mais que a sua. Olha, será que amanhã você poderia ligar pra moça do bufê e cancelar a visita? É que eu ainda tenho que ver pra onde eu vou, e infelizmente tenho que ver isso logo.
– Tá.
Ela virou pro lado, pondo a mão disfarçadamente nos olhos, deixando que o cabelo não revelasse a lágrima que tantava prender, mas que tinha acabado de cair. Ele ficou desolado.
– Eu te amo. Desculpa...
– Mentira! Você não precisava fazer isso, Renato. Eu nunca agiria como você. E parece que você tá querendo fugir, como se isso fosse melhor pra todo mundo.
– Mas vai ser melhor assim!
– Só se for pra você.
– Ei, espera...
Mas ela já tinha ido. Pôs a bolsa no ombro e saiu do quarto, batendo a porta num estrondo relativamente forte. A lágrima que antes saíra com dificuldade e relutância agora vinha sem esforços. E mais outra; e outra. Por fora os olhos congestionados. Por dentro a alma congestionada. Indignação, ódio, vingança... Tudo alagado. Tudo acabado.
No dia seguinte, após voltar do trabalho, Mariana ligou a televisão tentando achar algo que a pudesse distrair. O RJTV não era lá grandes coisas, mas ela resolveu ficar a par do que acontecia lá fora. Na verdade ela queria achar algo que fosse pior. Algo que pudesse consolá-la em meio a tanta tristeza. "Sempre tem gente passando por coisa pior", ela pensou assim. Nada fora do comum: preparativos para o segundo turno das eleições, um assalto em Copacabana, um tiroteio na Linha Vermelh... Mas ela entrou em pânico.
"Hoje à tarde a polícia militar trocou tiros com assaltantes na Linha
Vermelha, já próximo ao Aeroporto Internacional do Galeão, numa tentativa
de arrastão. Três pessoas ficaram feridas e duas morreram na hora. São elas
o taxista João Alves dos Santos e o estudante Renato Ferreira de Castro,
curiosamente o mais recente ganhador do prêmio lotérico da mega-sena. Dois dos
assaltantes foram presos e três ainda estão foragi..."
Mariana nunca mais foi a mesma, desde aquela noite.
27 September, 2008
O bom filho à casa torna.

Sempre pensei que fosse bom ficar um tempo ausente, assim, pra repensar sobre alguns aspectos em relação a algo que nem eu sei. Todo mundo fala "em relação à vida", mas acho que essa palavra não vem ao caso. Não no sentido em que eu quero dizer - ops, escrever. O fato é que minhas quimeras sempre foram mais introspectivas e tal. Andei fuçando lá e cá, em relação aos posts passados. E é verdade que um blog pode te mostrar coisas bem reveladoras, assim como um álbum velho de fotografias: olhamos, olhamos... e rimos de nós mesmos, ao perceber o quanto mudamos, amadurecemos, e no que nos tornamos, o que viemos a ser, o que de novo aconteceu e o que de velho permaneceu - essas frases em primeira pessoa do plural sempre funcionam de forma interlocutória quando o assunto em pauta são as auto-reflexões; meio paradoxal, eu sei, mas é só pra não fugir à regra.
Já passei por muita coisa nesse meio tempo e aprendi bastante, como já era de se esperar. Também já tive vontade de voltar aqui e relatar alguns dos ocorridos, mas a preguiça me venceu pela trilhonésima milésima vez - sim, chega a ser irritante, e a hipérbole reforça bem. Acabava postando mais coisas dos outros que minhas, propriamente. Crônicas, textos, algo que me chamasse atenção em coisas alheias; e esquecia de mim mesma. Resolvi, de agora em diante, escrever sobre a minha pessoa ou acontecimentos que presenciei. Soa egoísta, mas blog é pra isso mesmo!
Vejamos... Mês passado, numa aula de Teorias do Estado, meu professor falava sobre o surgimento do liberalismo e as decorrentes modificações a que este fora forçado a se submeter. Uma menina na classe até questionou se existe isso mesmo, de um liberalismo conservador - a priori - mudar tanto a ponto de não mais poder ser identificado. Confesso que tive a mesma dúvida. Entretanto, o professor foi categórico. Permitam-me colocar parte do diálogo no post:
"- Qual o seu nome mesmo, mocinha?
- Rute.
- Então, Rute... Com quantos centímetros você nasceu?
- Err... cinqüenta ou cinqüenta e um, não lembro - respondeu ela, meio que se perguntando o que teria isso a ver.
- E você tinha muito cabelo? - continuou o professor
- Um pouco... - respondeu a moça num estado entre risonha e envergonhada.
- Quantos anos você tem mesmo?
- Dezenove.
- Hum... Então, Rute. E hoje? Creio que você esteja bem diferente do que era com meses de vida, certo?
- É...
- Pois bem, não é porque você muda que você deixa de ser quem era há dezenove anos atrás, ou passa a assumir outra identidade. Mudanças sempre aconteceram e acontecerão. E isso serve pra você, pro liberalismo, pra república, pra monarquia...”
Sem mais delongas (porque o discurso foi grande, a fim de que a argumentação não tivesse mais questionamentos; professores sabem ser persuasivos, e isso às vezes assusta). Tive que concordar com meu querido mestre. E, enfim, lembrei da cena ao tentar escolher um tema pra esse post regresso.
Já fui loira, morena e até ruiva. Já tive cabelo chanel e pela cintura. Hoje penso coisas que há um ano atrás nunca ousaria indagar. Escuto bandas que antes nem agüentava ouvir, leio autores que já considerei chatos e cansativos... Tudo isso pra concluir que esse papo de monotonia é sempre a curto prazo, parando pra pensar. Nada permanece sempre do mesmo jeito, sejam essas transformações em grandes ou pequenas proporções. Esse “status mutantis” (eu adoro neologismos latinos) é e sempre foi intrínseco ao ser humano, tanto no campo físico e até mesmo de maneira subjetiva – e dessa me encarrego de, aqui, palpitar.
Metaforizando um bocado, a vida cotidiana não passa de um grande armário, cheio de perdas e aquisições. Cabe a nós salvar algumas peças, empacotar algumas relíquias e, de vez em quando, pegá-las lá naquele cantinho, empoeiradas e escondidas, a fim de recordarmos o quanto foram necessárias pra nos mostrar, hoje, o que ou quem viemos a ser. Gargalhar daquele deslize, chorar aquela decepção, desejar novamente aquele show ou viagem... Afinal, o passado é logo ali – olha a interlocução auto-reflexiva aí de novo. No fim das contas é assim que me sinto ao escrever novamente aqui. Ah, só um “obs.” que eu fiquei sabendo e achei muito interessante: sempre, em uma linha do tempo, nos referimos ao presente do lado direito/frente e ao passado do lado esquerdo/costas. Os índios têm uma visão contrária a esse ponto de vista. Para eles o passado é o que temos de referência, o que é ocorrido, e deve ficar ao alcance de nossa visão. O futuro, por ser algo oculto e vindouro, fica do lado de trás, já que não o enxergamos. Por isso, em rituais, quando fazem preces jogando algo para trás, rogam pelo que há de vir. Hostilidades à parte, é um ponto de vista – literalmente, ou não – curioso. Fecha o “obs.”
Pois bem, meus caros. O bom filho à casa torna. Retornemos ao blog – tô falando de mim, vocês é só pra comentar mesmo. Saudações de regresso!
14 June, 2007
O Carioca É. Antes de Tudo.

Carioca, é. Moreno e de 1,70 metro de altura na minha geração, com muitos louros de 1,80 metro importados da Escandinávia na geração atual, o carioca pensa que não trabalha. Virador por natureza, janota por defesa psicológica, autocrítico e autogozador não poupando, naturalmente, os amigos e a mãe dos amigos -- ele vai correndo à praia no tempo do almoço apenas pra livrar a cara da vergonhosa pecha de trabalhador incansável. E nisso se opõe frontalmente ao "paulista", que, se tiver que ir à praia nos dias da semana,vai escondido pra ninguém pensar que ele é um vagabundo.
Amante de sua cidade, patriota do seu bairro, o carioca vai de som (na música), vai de olho (é um paquerador incansável e tem um pescoço que gira 360 graus), vai de olfato (o odor é de suprema importância na fisiologia sexual do carioca).
Sem falar, que, em tudo, vai de espírito; digam o que disserem, o papo, invenção carioca, ainda é o melhor do Brasil, incorporando as tendências básicas do discurso nacional: o humanismo mineiro, o pragmatismo paulista, a verborragia baiana.
E basta ouvir pra ver que o nervo de todas as conversas cariocas, a do bar sofisticado como a do botequim pobre e sujo, por isso mesmo sofisticadíssimo, a do living-room granfa, a da cama (antes e depois), é o humor, a crítica, a piada, a graça, o descontraimento. Não há deuses e nada é sagrado no Olimpo da sacanagem. O carioca é, antes de tudo, e acima de tudo, um lúdico. Ainda mais forte e mais otimista do que o homem da anedota clássica que, atravessado de lado a lado por um punhal, dizia: "Só dói quando eu rio", o carioca, envenenado pela poluição, neurotizado pelo tráfego, martirizado pela burocracia, esmagado pela economia, vai levando, defendido pela couraça verbal do seu humor.
Só dói quando ele não ri.
Só dói quando ele não bate papo.
Só dói quando ele não joga no bicho.
Só dói quando ele não vai ao Maracanã.
Só dói quando ele não samba.
Só dói quando ele esquece toda essa folclorada acima, que lhe foi impingida anos a fio com o objetivo de torná-lo objeto de turismo, e enfrenta a dura realidade... carioca.
16 May, 2007
07 April, 2007
Da ficção à realidade
- - -
Mas pelo quê, meu Deus?! Apenas pela pura vaidade - eu responderia se me perguntassem. Será? Será mesmo que é mais interessante saber se a mulher do vizinho é mais "gostosa" que a sua, ou se vale mesmo a pena apelar para uma garota de programa na hora da "vontade"...? Será que transar com outra pessoa enquanto casado, em alguma eventualidade, não é mais (porque já foi) sinal de traição? Porque dividir as coisas, nessa hora? Haha, é tanta hipocrisia que até me surpreende!
Um professor meu, por exemplo, tem uma bela mulher e lindos filhos, aparentemente muito bem-sucedido no casamento, mas ele é viciado em casas de prostituição. E teima em não achar que esteja traindo a esposa, porque ao seu ver, não rola sentimento nessas aventuras sexuais alheias.
Traição? Essa palavra só atinge seu significado quando vinculada a sentimento? Será que não rola, aí, uma traição de confiança (onde você acredita que a pessoa é leal a você, não importa o que aconteça), traição de promessa (onde você jura solenemente, na hora do casamento, em amar honrar e respeitar o parceiro, mesmo com as intempéries cotidianas dos casais), traição de si próprio (por fingir - e repito, fingir - acreditar que enganar o companheiro não tem nada demais, sem saber que não se pode enganar a si mesmo), trair, trair, trair... Trair achando que se tudo der errado, pelo menos há um reserva a recorrer? Pura ilusão!
E foi aí que me lembrei do filme. Isso a que todos buscamos (felicidade é o nome? acho que está mais pra auto-realização) é tão relativo quanto Einstein achou ao criar sua teoria. Vejo pessoas arriscando seus casamentos por causa da vaidade, pondo em risco o bem-estar construído durante anos por uma bobagem - eu, pelo menos, acho. Arriscam por achar que as coisas sairão como planejado, e mudarão para melhor. Mas muitas vezes (e em sua maioria) isso não acontece. E o que é pior: perde-se "tanto no time titular, quanto no time reserva". Só o que resta é o arrependimento, que já não adianta naquela altura do campeonato.
Surpreendente é mais tarde ver tanta gente recorrendo a terapias para casais, retiros, livros de auto-ajuda, remédios para depressão, até mesmo igrejas, templos ou terreiros. Tudo é válido na hora do desespero. Se formos parar para pensar, é fácil concluir que cortar o mal pela raiz não é tão complicado. O problema é que tem muita gente que prefere mil vezes errar e errar (e posteriormente tentar consertar o erro) a acertar de primeira. Talvez fosse mais fácil não casar, ou abolir de vez a monogamia nesse planeta! E salve os sheiks árabes; esses, sim, deram sorte!